Noite Estrelada, Vincent Van Gogh, 1889
É importante tentar compreender as partes e o todo de que somos parte. O nosso Sol não é mais do que uma estrela entre milhões de outras, numa galáxia entre milhões de outras no Cosmos. Por sermos um produto da sua evolução e termos uma curiosidade tal que nos leva a interrogar, não só a nossa dimensão e lugar no Universo, mas também o nascimento do mesmo, podemos afirmar que a astronomia é uma das ciências mais apelativas do nosso tempo.
Durante milénios e milénios, a origem do Cosmos foi “explicada” através de concepções mítico-religiosas. O homem regeu-se por mitos, conjuntos de narrativas tradicionais acerca do mundo, do homem, dos deuses, que visavam responder aos problemas e enigmas mais prementes e fundamentais acerca da origem, e onde, muitas vezes, as forças naturais eram personificadas e divinizadas.
O interesse de conhecer aquilo que nos rodeia levou a que vários pensadores da Antiguidade se interrogassem: o que é o mundo?
Os sábios da Babilónia, dedicaram-se à observação dos astros com o objectivo de fazer horóscopos, previsões para o futuro, ou elaborar calendários astrológicos. Para além dos povos da Mesopotâmia, outros povos dedicaram-se ao estudo da astronomia, caso dos Egípcios, Chineses, e dos árabes que contribuíram principalmente com os seus conhecimentos matemáticos.
Contudo, foram os Gregos que ficaram conhecidos como a civilização da “Razão”, pois embora se servissem dos conhecimentos matemáticos e geométricos dos egípcios e dos povos asiáticos, a dada altura começaram a procurar vias de compreensão do Universo por moldes racionais e não teológicos, estudando os fenómenos por via de uma observação sistemática, afastando-se assim progressivamente duma visão do mundo profundamente mitológica. Aqui ficam alguns exemplos de perspectivas defendidas por alguns filósofos desta época:
1) Anaximandro (611-547 a.C.).
Para este pensador, a terra tem a forma de um cilindro e ocupa o centro do Universo. Não necessita de qualquer sustentáculo, devido às propriedades geométricas do espaço em si. Anaximandro vai poder defender esta posição, através da constatação daquilo que se entende por “cair”. “Cair” significa sempre passar de um sítio mais elevado para um sítio mais baixo. Acontece que o Universo para Anaximandro, é uma esfera. O lugar mais baixo de uma esfera é o seu próprio centro. Se a terra está no centro do Universo, ela já está no seu ponto mais baixo pelo que não pode nunca cair.
2) Pitágoras (582-500 a.C.).
Segundo este autor – cujas ideias deram origem origem a uma escola, o Pitagorismo, tendo os seus discípulos ficado para a História como os Pitagóricos – , a origem de todas as coisas são os números, que funcionam como pequenos corpúsculos – “átomos” – cuja combinação gera a vida. Os números são, portanto, os elementos constituintes da matéria. A ordem do Universo assenta neles e pode ser compreendida através do exercício racional da filosofia, cujo objectivo é descobrir as harmonias escondidas do COSMOS.
Os Pitagóricos foram dos primeiros a defender a ideia da esfericidade dos astros. Segundo estes homens a esfera constitui-se como uma metáfora do infinito, na medida que não temos consciência do seu princípio nem do seu fim. Se caminharmos em cima duma esfera, não temos consciência de qualquer ponto que a limite, pelo que se constitui como “infinita”. Contudo, os Pitagóricos defendem igualmente a esfericidade dos astros através da via empírica. Os eclipses, por exemplo, servem como justificação desta ideia, porque as sombras recortadas que vemos nos céus são circulares. Ora, o círculo é uma representação bidimensional duma esfera tridimensional, pelo que facilmente concluímos que os planetas são esféricos.
3) Aristarco de Samos (séc. III a.C.)
Contestando o modelo geocêntrico, defendeu um sistema de pendor heliocêntrico. Segundo as suas posições, o Sol era o centro do Universo e em torno dele giravam todos os planetas. Para além deste movimento de translação, a terra rodava ainda em torno do seu eixo. Estas posições heliocêntricas foram muito contestadas e só quase dois mil anos mais tarde novamente defendidas, desta feita por Nicolau Copérnico.
4) Platão (428 a 347 a.C.)
Autor de inúmeros diálogos, escreveu um – intitulado TIMEU - dedicado a questões cosmológicas. Nesta obra procurou responder a questões como as que se seguem:
- Porque que é que os astros são esféricos?
- Porque que é que as órbitas dos planetas são circulares
- Porque é que as velocidades são constantes?
- Porque é que o mundo acaba na esfera das estrelas
- Porque é que a Terra é o centro do Universo?
- Porque é que o mundo é composto de várias substâncias’
Para responder a estas perguntas, Platão recorre à ideia de projecto. O mundo é assim porque foi projectado dessa forma. Mas, quem foi o projectista? A resposta encontra-se na figura do Demiurgo que une a cosmologia Platónica à dimensão teológica. Para o Demiurgo, o objecto formal que mais se assemelha a ele, é uma esfera, Porquê? Porque uma esfera é um ente simultaneamente finito e infinito, cuja forma levanta muitos problemas. Quando caminhamos numa esfera, não lhe reconhecemos pontos de partida nem de chegada. Tudo é igual. A esfera é pois uma metáfora geométrica do infinito que concretiza uma curva sem princípio nem fim.
5) Aristóteles (384-332 a.C.)
Ao contrário de Platão, este filósofo não procura explicação do mundo em demiurgos, embora concordassem ambos com a existência de um cosmos ordenado. Segundo Aristóteles, a experiência empírica é a chave do Universo. A natureza é a única coisa que existe, considerando que o mundo é composto dos quatro elementos fundamentais: ÁGUA, TERRA, FOGO, AR
Para Aristóteles, os quatro elementos circunscrevem-se ao mundo terreno. Os outros planetas são compostos de éter. O Universo está dividido em duas partes, separadas pela Lua. Para além da Lua encontramos o Mundo Supra-Lunar composto pelos outros astros. Feitos de éter, não conhecem a mudança, são eternos e ficarão ali para sempre. Abaixo da Lua, temos a Terra. O mundo sublunar é o sítio mais imperfeito de todos, onde as substâncias primordiais estão enclausuradas. Ideias como quente, frio, seco e húmido são o resultado das suas combinações.
Aristóteles dá também uma explicação para o aparecimento dos cometas: os cometas são objectos sublunares, bolas de fogo resultantes de erupções vulcânicas, que se elevam nos céus. São fenómenos imprevisíveis, típicos do mundo sublunar.
A teoria geocêntrica consolidada por Ptolomeu no séc. II d.C. segundo a qual a terra era o centro do Universo será posta em causa, no séc. XV d.C. por Copérnico defendendo a teoria heliocêntrica. Por volta desta altura, os germes do espírito científico que fermentavam a observação e a experimentação, viabilizados pela matemática, pela física e, consequentemente, pelo aparecimento de novas tecnologias, impuseram-se sobretudo na civilização ocidental dando origem à ciência dos tempos modernos. Para além de Copérnico, nomes como Galileu, Kepler e Newton contribuíram em muito com os seus conhecimentos, tendo os mesmos sido fundamentais para os avanços científicos e tecnológicos que serviram de base à investigação científica do nosso tempo.
Cometa Hale-Bopp - fotografia captada na Serra do Marão, em 29 de Março de 1997, por Eduardo Chaves.
“…Ai, Galileo! Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,andavam a correr e a rolar pelos espaçosà razão de trinta quilómetros por segundo.Tu é que sabias, Galileo Galilei. … "
Poema a Galileo Galilei, António Gedão, 1968
As grandes revoluções científicas, tecnológicas, artísticas e sociais do século XX trouxeram novas formas de Observar o Mundo.
Hoje em dia, a explicação científica mais comummente aceite para a origem do universo, é a teoria do Big Bang. Não se sabe o que haveria antes da grande explosão. Só no momento do Big Bang é que surgiu o espaço, o tempo, a energia e a matéria. Segundo esta visão, desde o momento da explosão que o Universo se encontra em expansão.
6 comentários:
Parabéns Carminda por tão interessante texto e imagens.
Pintura, poesia e um céu cheio de estrelas. Inspirador, sim senhor.
Tenho a honra de conhecer pessoalmente a autora e editora dos textos, com quem me cruzei no ambiente acdémico, e o autor das fotos, no âmbito das inúmeras iniciativas que empreendeu ligadas à astronomia.
Aqui está algo que os saudosos Fernando Monteiro e Rui Alvaro quereriam muito ver.
Parabéns, Carminda
Muito bem escrito, com o acrescento das fotos bem ilustrativas do magnífico e enigmático Cosmos... que tanto nos atrai e que... tão pouco sabemos.
Parabéns
Karl Marcel
Muito interessante. Fotos lindas. Fico à espera de mais.
Parabéns
O que é feito do Rui Álvaro?
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